Obtenção de Parâmetros da Curva de Saturação para Entrada de Dados no Anatem O Anatem dispõe de quatro modelos de curvas predefinidos, por meio dos quais é possível modelar o efeito da saturação através de parâmetros a serem fornecidos pelo usuário, via código DCST e, posteriormente, relacionando-a à máquina em questão. A curva de saturação de uma máquina síncrona pode ser representada por meio de funções por partes ou funções polinomiais. No caso do Anatem, para a curva modelo tipo 2 , é utilizada a representação do Paul Anderson [1], função por partes, onde a função de saturação é dividida em duas funções, sendo a primeira linear e a segunda exponencial. Prabha Kundur [2] apresenta outra formulação por partes, onde existe uma terceira parte exponencial. Nota: O modelo tipo 2 é o normalmente utilizado para a representação da saturação nas máquinas síncronas. A curva do modelo tipo 2 do Anatem presume a entrada de três parâmetros (A, B, C). Os seguintes valores para esses parâmetros são tipicamente encontrados para o modelo tipo 2 : \begin{align*} &A < 0,1\\ 5 < &B < 10\\ &C = 0,8 \end{align*} Obtenção dos parâmetros a partir das curvas de tensão terminal graficamente pela diferença visual na tensão Uma curva de saturação típica pode ser encontrada na figura abaixo: A parte exponencial do modelo tipo 2 da curva de saturação do Anatem pode ser definida pelas seguintes expressões: S\left(V_{sat}\right)=A\cdot e^{B\cdot\left(V_{sat}-C\right)} S\left(V_{sat}\right)=V_{gap}-\ V_{sat} Sendo: V_{gap} Tensão na linha de entreferro V_{sat} Tensão no circuito aberto com saturação O parâmetro C é utilizado para identificar o ponto de ruptura entre o modelo linear e o modelo exponencial. Normalmente, utiliza-se o valor de 0,8 para este parâmetro. Restam, portanto, dois parâmetros a serem definidos (A e B). Como a função exponencial é uma função monótona, dois pontos definem uma função exponencial que depende de dois parâmetros. Sendo assim, é preciso aquirir do gráfico da saturação da máquina dois pontos (sob a região exponencial). Definimos as seguintes variáveis: I_{f1} Corrente necessária para se obter 1,0 pu de tensão na linha do entreferro I_{f2} Corrente necessária para se obter 1,0 pu de tensão no circuito aberto com saturação I_{f3} Corrente necessária para se obter 1,2 pu de tensão no circuito aberto com saturação As correntes I_{f2} e I_{f3} podem estar definidas para quaisquer outros valores de tensão, mas usualmente esses são valores utilizados. A base dessas correntes é indiferente ao processo. Definindo essas correntes, calculamos S(1,0) e S(1,2) a partir dos valores das curvas no gráfico. A figura seguinte ilustra esse processo: Para as curvas utilizadas, as tensões na linha do entreferro para a corrente I_{f2} é de 1,125 pu, enquanto que para a corrente I_{f3} é de 1,89 pu. Tais informações foram obtidas diretamente do gráfico. Assim: \begin{align*} S\left(1,0\right)=1,125-1,0=0,125\\ S\left(1,2\right)=1,890-1,2=0,690 \end{align*} Sendo S_1 e S_2 dois pontos quaisquer da parte exponencial da curva, os parâmetros A e B podem ser encontrados a partir da relação desses dois pontos regidos pela equação (1) : B=\frac{\ln{\left(\frac{S_1}{S_2}\right)}}{V_1-V_2} A=\frac{S_1}{e^{B\left(V_1-C\right)}} Calcula-se, então: B=\frac{\ln{\left(\frac{0,125}{0,690}\right)}}{1,0-1,2}\approx8,542 A=\frac{0,125}{e^{8,542\left(1,0-0,8\right)}}\approx0,023 No Anatem, esses parâmetros calculados seriam informados como no excerto abaixo: Excerto de DCST referente ao caso 1 DCST (Nc) T ( P1 ) ( P2 ) ( P3 ) ( A B C 01 2 0.023 8.542 0.8 999999 Obtenção dos parâmetros a partir das curvas de tensão terminal pelas correntes I_{fn} Alternativamente, sabendo que a relação entre a tensão na linha do entreferro e a corrente de campo é linear, também seria possível estimar o valor da tensão no entreferro a partir do cálculo da inclinação da reta, pela corrente I_{f1}. Supondo que as correntes I_{f1}=17,60\ A, I_{f2}=19,70\ A e I_{f3}=32,92\ A são conhecidas e referentes às curvas da seção anterior, a equação (2) pode ser reescrita da seguinte maneira: S\left(V_{sat}(I_{fd})\right)=V_{gap}-\ V_{sat}=\frac{I_{fd}}{I_{f1}}-\ V_{sat}(I_{fd}) Sendo V_{sat}\left(I_{fd}\right) a tensão obtida, para uma dada corrente de campo, pela curva de saturação em circuito aberto. Como as correntes I_{f2} e I_{f3} se referem às tensões de 1,0 e 1,2 pu, respectivamente, têm-se que: S\left(V_{sat}(I_{f2})\right)=\frac{19,70}{17,60}-1,0\approx0,120 S\left(V_{sat}(I_{f3})\right)=\frac{32,92}{17,60}-1,2\approx0,670 As equações (3) e (4) fornecem então os seguintes valores para os parâmetros A e B: B=\frac{\ln{\left(\frac{0,120}{0,670}\right)}}{1,0-1,2}\approx8,60 A=\frac{0,125}{e^{8,542\left(1,0-0,8\right)}}\approx0,021 No Anatem, esses parâmetros calculados seriam informados como no excerto abaixo: Excerto de DCST referente ao caso 2 DCST (Nc) T ( P1 ) ( P2 ) ( P3 ) ( A B C 02 2 0.021 8.60 0.8 999999 Observe que as diferenças entre os parâmetros encontrados nos caso 1 e caso 2 são decorrentes da imprecisão inerente à aquisição por inspeção de dados de um gráfico. Funções logarítmicas e exponenciais também são fonte de imprecisões em função da alta sensibilidade numérica decorrente de arredondamentos praticados. Obtenção dos parâmetros a partir de dados tabelados Outra possibilidade para a obtenção dos parâmetros da curva de saturação no Anatem reside na situação em que os dados da curva de saturação são dados na forma de tabela, como a informada a seguir: Tabela de diferentes valores da curva de saturação informadas pelo fabricante Tensão Terminal L.E. C.S. VAZIO Vt (kV) Vt (pu) Ifd (pu) Ifd (A) Ifd (pu) Ifd (A) 0 0 0 0 0 0 11.5 0.5 0.30572 350.0249 0.30787 352.4865 13.8 0.6 0.36686 420.0254 0.37147 425.3034 16.1 0.7 0.428 490.0258 0.4379 501.3605 18.4 0.8 0.48915 560.0376 0.5104 584.3672 20.7 0.9 0.55029 630.038 0.59592 682.2807 23 1 0.61143 700.0384 0.7094 812.2062 25.3 1.1 0.67258 770.0503 0.8829 1010.85 27.6 1.2 0.73372 840.0507 1.1853 1357.074 29.9 1.3 0.79486 910.0511 1.7643 2019.982 32.2 1.4 0.85601 980.063 2.9372 3362.859 34.5 1.5 0.91715 1050.063 5.3851 6165.509 Os dados apresentados podem estar tanto em pu (em relação a alguma base) quanto em suas grandezas originais. Para a tensão, é importante que seja utilizado o valor da tensão em pu na base de tensão da máquina. Para a corrente, é indiferente se será utilizado em pu ou em Ampères. Assim, o procedimento de cálculo é semelhante ao realizado na seção anterior: S\left(V_{sat}(I_{f2})\right)=\frac{812,2062}{700,0384}-1,0=\frac{ 0,70940}{0,61143}-1,0\approx0,16 S\left(V_{sat}(I_{f3})\right)=\f rac{1357,0740}{700,0384}-1,2=\frac{1,18530}{0,61143}-1,2\approx0,74 Portanto: B=\frac{\ln{\left(\frac{0,16}{0,74}\right)}}{1,0-1,2}\approx7,66 A=\frac{0,16}{e^{7,66\left(1,0-0,8\right)}}\approx0,035 Desta forma, no Anatem esses parâmetros calculados seriam informados como no excerto abaixo: Excerto de DCST referente ao caso 3 DCST (Nc) T ( P1 ) ( P2 ) ( P3 ) ( A B C 3 2 0.035 7.66 0.8 999999 [1] Paul M Anderson and Aziz A Fouad. Power system control and stability . John Wiley & Sons, 2008. [2] Prabha Kundur, Neal J Balu, and Mark G Lauby. Power system stability and control . Volume 7. McGraw-hill New York, 1994.